05 dezembro 2007

Só por ela




Lembro-me bem do dia em que ela saiu de casa. Não daquele em que arrumou roupas, tachos e almofadas e partiu para outro lugar. Não esse. O dia em que a minha irmã saiu de casa foi aquele em que a vi de chinelos à porta de uma casa que não era a minha, mas só dela. A partir dali os nossos encontros eram as férias e os fins-de-semana e cada vez mais separadas pela distância encurtámos, progressivamente, este sentimento forte e seguro, que não sinto por mais ninguém. Só por ela.

Porque há coisas, instantes da vida, que por muitos pequenos que pareçam colam-se à memória como sinais da pele e voltam quando menos se espera ou então quando se chama o passado para tapar buracos do presente. A minha irmã esteve sempre lá: nas tardes que passávamos a ver filmes alugados no clube de vídeo e chorávamos de tanto rir com comédias de nenhuma qualidade; no quarto partilhado por tantos anos; nas férias na praia e de um escaldão em particular; nas primeiras voltas por Lisboa; nos desatinos da adolescência. E a minha irmã tem estado sempre lá: nos meus primeiros passos na faculdade; nos problemas por tudo e por nada; nos momentos mais difíceis e mais marcantes e nos melhores de todos, nos 9 meses da minha gravidez como na primeira noite com o Tigy ao lado...


Hoje a minha irmã foi mãe. E eu que sempre pensei ser tia muito antes de ser mamã, só queria estar sempre ao lado dela como ela tem estado do meu. Incluindo o dia de hoje, esta noite e este preciso momento.