11 outubro 2007

O bater do coração


Todas as noites o Tigy vai para a sua caminha por volta das 9 da noite. A rotina é deitá-lo, dar-lhe a fraldinha e rodeá-lo dos seus bonecos preferidos: o Noddy, a quem ele chama "popó"; o Ruca que ele trata por "Pípi"; um macaco que é o "pá" e um Pai Natal, que canta Frank Sinatra, e que ele baptizou de "oh oh oh". Deste ritual faz parte dizer-lhe algumas vezes "Vamos dormir", "Dorme bem" e "Até amanhã", e ele fica aconchegado, pronto para recuperar toda a energia que o faz mexer dias inteiros.
Esta noite aconteceu algo diferente e novo, para mim. Apesar de estarem todos os companheiros presentes, a fralda entre as mãos, junto ao rosto, e a minha voz a repetir, sussurrando, as frases certas, o Tigy não me deixava afastar da cama.

Ao aproximar a minha mão das dele, num gesto rápido, o Tigy agarrou a minha mão e colocou-a entre as suas, encostando-a ao seu peito. Assim ficámos alguns minutos: a minha mão espalmada sobre o peito pequenino do meu filho, e ele a segurar-me, com força, com as suas duas mãos. O quarto escuro, o silêncio, aquele toque das nossas peles e o coração dele a bater dentro do peito, como se conversasse com a palma da minha mão. Quando o senti quase adormecido... soltei a minha mão das dele e aquela interrupção, entre o palpitar do coração dele e o meu corpo, assustou-me. Olhando-o assim, a reclamar a ausência das minhas mãos no seu peito, percebi que sentimos os filhos tão nossos que chegamos a pensar que os seus corações só batem se as nossas mãos os sentirem...
Deixei-o no quarto, a dormir a sua noite dentro dos seus sonhos. Fiquei eu com os meus pensamentos: Pois é... Tenho um filho que cresce... tão depressa. E que tem um coração que bate só por ele, mas que precisa tanto do meu...