31 dezembro 2005

Um ano CHEIO


Último dia do ano. Bebé ainda dorme. Marido perdido entre fumo, jornais e canais de notícias da tv. Bom momento para ouvir o Chico Buarque e para pensar em 2005!

Há anos assim em que acontece tudo e em que, às páginas tantas, nem sabemos bem do que gostámos mais, do que queremos eternizar, do que nos marcou definitivamente... e apetece viver tudo outra vez.

O ano começou com um formigueiro na barriga que fez tremer, que fez desabar tudo o que são prioridades e planos, tudo o que são metas e etapas... e, no fim, nada disso tinha qualquer importância! O formigueiro chama-se Tiago e veio revolucionar, por completo, o que eu era e o que queria para mim. Várias pessoas me diziam que só se sabe o que é amar depois de ter um filho. Eu duvidei. Eu angustiei-me por não ter sentido um-não-sei-o-quê novo logo na primeira noite de maternidade. Eu assustei-me quando dei por isto dentro do peito, que se alastra pela cabeça, pelos ouvidos, pela boca, pelas pernas, pelas mãos... pelo corpo todo. E confesso: é um amor que sufoca por ser tão grande, por se querer ser tão perfeito e estar tão junto que acaba a doer!

2005 era o meu ano de noiva. Mas de noiva passei a grávida, de grávida a recém-casada, de recém-casada a mãe! No meio de tanto título acabei por não saber bem como fiquei eu... a Beguinha do Beguinho, a filhinha dos papás, a mana mais nova da mana melhor do mundo, a colega dos colegas, a amiga dos amigos. Sei-o agora. Ao terminar o ano. O meu ano. Fiquei melhor, mais completa, mais terra-a-terra, mais apaixonada, mais feliz!

Um ano assim é uma vida inteira em 12 meses. E, a partir de agora, até parece que tudo o que importa aconteceu em 2005. Com uma barriga a crescer, com um casamento fresquinho, com uma barriga vazia e um bebé no colo, com um filho a crescer, com a vida a ganhar novas rotinas - 2005 fez-se de surpresas, fez-se de felicitações, fez-se de pessoas. Pessoas como o Beguinho que é perfeito todos os dias em todos os papéis, como os pais que me dão provas todos os dias do tal sentimento diferente que têm com eles, por também terem filhos, dos amigos que todos os dias querem saber notícias, estar presentes, ser parte de tudo e da mana que esteve comigo em cada dia deste ano tão grande.

Este não pode ser o ano de ninguém, porque ganhei o Tigy, porque ganho o Beguinho constantemente, porque ganho provas de todos os lados, como se elas fossem precisas... Mas se este pudesse ser o ano de alguém seria o ano dela, da minha mana, da minha melhor amiga.

Para 2006 não preciso de um ano tão cheio, não preciso de um ano tão bom... preciso das minhas pessoas e do meu bebé feliz!

22 dezembro 2005

Querido Super Pai Natal



Este ano não te peço nada para mim. Mas peço-te muito para o meu bebé.
Sei que vai ter imensas prendas, vindas da família e dos amigos... Nós - os pais - tivemos até algumas dificuldades em escolher presentes para ele...
Sei que vai ficar com o roupeiro a abarrotar de roupa nova, para não ter de sair à rua despido e reclamar do frio.
Sei que os brinquedos novos vão ser muitos e variados, cheios de músicas repetitivas, de muitas cores e formatos.
Sei que vai receber objectos úteis e outros que nem por isso, sei que vai adormecer a meio do desembrulhar das prendas e sei, também, que não irá saber que é o verdadeiro rei deste Natal.
Entre tantas prendas, o que te peço, a ti Super Pai Natal, é que o meu bebé seja sempre feliz, tenha sempre saúde e um sorriso para mim. E em Natal nenhum te pedi um presente tão valioso!

16 dezembro 2005

Um instante qualquer


Quando não se encontram as palavras do que está por dizer,
quando não se desata o fio dos pensamentos,
quando fica silêncio entre os sons de palavras baralhadas...
Mas - mesmo assim - se quer deixar por escrito
essa turbulência das ideias, procuram-se as frases dos outros,
como neste "INSTANTE" de Sophia de Mello Breyner Andresen.

«Deixai-me limpo
O ar dos quartos
E liso
O branco das paredes
Deixai-me com as coisas
Fundadas no silêncio»


... no dia dos 4 meses do meu Tigy...

08 dezembro 2005

À Distância


Às vezes o mundo parece ainda maior, ainda mais injusto, ainda mais angustiante.
Às vezes a vida ganha traços mais trágicos, mais duros, mais tristes.
Porque as rotinas de uns são a dor de outros. Porque as nossas alegrias não chegam para atenuar as diferenças. Porque as tristezas são sempre deles, dos outros, da distância, da indiferença.

AQUI, nestas simples imagens, estão terríveis verdades, que teimamos em ignorar, em afastar dos nossos dias, dos nossos hábitos, dos nossos Natais! Contra mim falo.

30 novembro 2005

Serões à lareira


Uma das melhores recordações que tenho da minha infância está no primeiro dia de cada Inverno em que a minha Mãe acendia a lareira. Lembro-me perfeitamente de pensar, no caminho entre o Colégio e a nossa casa, se seria esse o dia em que haveria lume na sala. Depois, ao chegar, passava sempre a mão pela parede, ao subir as escadas - num certo local, quando a lareira ardia, a parede ficava quente. Esta lembrança tão minha, de mochila às costas, de alguma chuva na rua, de um fim de tarde de escola e da mão a deslizar na parede áspera é uma coisa tão simples e ao mesmo tempo tão saborosa! Muitas vezes me desiludi quando senti a parede fria... Quantas vezes sorri ao aperceber-me do calor, porque do outro lado dos tijolos estava a sala numa nova disposição, a do Inverno: os sofás mais perto da lareira, ao redor do calor. E que saudades desses fins de tarde, em que os trabalhos de casa eram feitos no sofá, bem pertinho do lume, e em que se jantava também ali, sopa, torradas, castanhas assadas e tangerinas.
Lembrei-me de tudo isto esta noite, aqui na minha casa tão longe do lugar da minha infância, enquanto o marido ateia o lume e eu reparo nas bochechas vermelhas do meu bebé. Está quente aqui dentro... e está-se tão bem.

22 novembro 2005

O voo do tempo


Ao ouvir hoje as notícias sobre o novo aeroporto da Ota, focalizei as minhas atenções nas datas: lançamento do concurso em 2007; início da construção em 2010; entrada em funcionamento em 2017. 2017? Foi aí que comecei a fazer contas: ora 2017 menos 2005 dá 12... 20 e tal mais e ... pois que... Meu Deus! Conclusão: quando Lisboa tiver um novo aeroporto o Tigy terá 12 anos e eu serei uma mãe quase a chegar aos quarentas. Como se sente a vida toda a passar num instante, depois de umas contas feitas, depois da notícia do dia ouvida e repetida nos telejornais. Nesta minha pressa de viver sempre o que está para chegar, comecei a rabiscar mentalmente um futuro com um filho na pré-adolescência (sabe-se lá quantas mais crianças!) e com mais anos para trás do que para a frente... E não gostei dessa escassez do tempo, sentida nuns segundos, perdida no instante seguinte ao voltar o olhar para o rosto de 3 meses (já?!) do meu bebé, para as promessas do Governo quanto a datas, para esta sensação de liberdade que me dão os meus dias sem horários, sem tarefas, sem exigências. Os meus dias de mãe a tempo inteiro, entregues completamente aos pedidos e silêncios do meu filho.
Daqui até 2017 quero ser mais e melhor por ele, mas também por mim... pelo que a vida me exige, pelos que os meus sonhos me segredam, diariamente. Quando o primeiro avião levantar voo da Ota para o céu, de 2017 para a frente, que presente terei, que passado guardarei? E por onde voará o meu - já não - bebé?

13 novembro 2005

Gritos de dúvidas


Esta tem sido uma semana de gritos... Gritos no sentido real do termo! O Tigy tem passado horas seguidas no seu mais recente entretenimento: gritar. E é aí que o pânico se instala. Primeira reacção é pensar que tem fome, mas quanto mais se aproxima o leite mais alto fica o som. Segunda tentativa: mudança de fralda. Normalmente não há nada a registar e, então, a conclusão é óbvia: quer fazer cocó! Massagens na barriga, embalos em todas as posições, beijinhos e abraços... Sem sucesso.
E os gritos sucedem-se. Bebé cada vez mais vermelho, com as lágrimas a saltarem dos olhos, os braços e as pernas agitados! Pais desesperados entreolham-se sem saberem o que fazer!
Assemelham-se a ataques de pânico ou de desespero e nada, nem ninguém, o consegue calar.
À força das tentativas, o pai tem sido o mais bem sucedido com os passeios pela casa, com o Tigy aos pulinhos. Eu decidi pesquisar...

"Dias depois do nascimento, o bebé – que se encontra perfeitamente bem durante o dia – começa a ter crises de choro ao entardecer, geralmente entre as seis da tarde e as dez horas da noite. Obviamente, esse choro pronunciado e entrecortado gera grande ansiedade e angústia nos papás, pois não sabem a que é devido e também se existe alguma coisa que possam fazer para aliviar o bebé. Mas não devemos desesperar: tem simplesmente cólicas, e a verdade é que, apesar das dores que causam, o bebé não sofre tanto como os seus papás ao ouvi-lo chorar."
in SAPO BEBÉ

Aqui está. Nesta coisa de ser mãe alivia saber que os piores males dos nossos filhos são, afinal, males de todos os filhos da mesma idade. Sabe bem ouvir "é normal", sabe bem ouvir "isso passa", sabe bem acreditar. Mas nesta coisa complexa de ser mãe sabe melhor quando o nosso bebé ri, quando o nosso bebé dorme, quando o nosso bebé sossega, brinca, emana felicidade. Sabe melhor ainda pensar que com o mal de todos os filhos podemos nós bem, não os queremos é para os nossos.

03 novembro 2005

Visita à doutora, mamã sem abrigo e outras histórias em dia de chuva


Uma ida à pediatra é, sempre, uma manhã de stress. O Tigy não está habituado a correrias, a saída com horário, ao trânsito da manhã, também a alguma falta de paciência do pai e a alguma impavidez da mãe. Ultrapassada a cidade em dia de chuva, o Tigy e o pai deliciaram-se com a estreia do canguru - os dois de gabardine, enfrentando o tempo num dia cinzento - juntos, quase colados, partilhando o pulsar da pressa, juntamente com os remoinhos do cabelo, a forma do rosto, sabe-se lá que mais parecenças ou segredos... Eu, no meu passo menos apressado, pensava nisto tal qual como o escrevo agora.
A consulta teve o registo do aumento de peso, o crescimento da cabecinha e de todo o corpo, teve alguma choradeira até. No final de tudo soube-se que o Tigy está de perfeita saúde e, em breve, irá provar a sua primeira papa.
Depois, continua o dia... Um dos de chuva que quase sempre traz momentos de nostalgia. Principalmente quando se tem tempo a sós, resguardada no sono do bebé, no silêncio da tv, numa vontade de dizer muito sem revelar nada. A distância começou a ter para mim um significado completamente novo desde que o Tigy ganhou forma, peso e pulsação dentro da minha barriga. Agora, a viver a sua vida, a respirar o seu ar, a sentir a sua pele, a descobrir o seu mundo... essa distância tem-se revelado quase insuportável. Olhar para ele, para nós dois nos nossos dias muito iguais, ganha, vezes demais, um sabor a tristeza que se funde com a felicidade grandiosa e inqualificável de o ter, de o amar. Partilhar tudo isto, com quem eu queria, diariamente, atentamente, presentemente, de forma real, palpável, certa, revesteria toda esta paixão com uma leveza que não lhe consigo dar, agora. E é assim, no momento da vida em que me devia sentir mais crescida, um núcleo de protecção e de força para o meu bebé, que me sinto mais frágil, mais incapaz, mais menina, mais saudosa, mais perdida. O peito acaba por não sustentar todo o ar e, às vezes, há coisas que têm de sair pelos olhos!
O melhor de tudo é perceber que nada na vida é comparável ao meu bebé: ao seu sono tranquilo, ao seu despertar mimado, às suas exigências singelas, à sua agitação divertida. E nada do que vivi, para trás, é comparável a este papel de mãe: ao meu sorriso embevecido, à minha preocupação constante, ao meu medo infundado, até à minha fragilidade imensa. Tudo isto, misturado com o pânico de ver o tempo passar e de sentir que estes dias assim, mesmo a dois, irão acabar. E a partir daí nada será como antes.

01 novembro 2005

Palavras dos outros


Sempre gostei de citações. Desde que comecei a ler que aponto as frases que mais gosto e que vou encontrando ao longo dos livros. Guardo esse hábito desde o tempo em que devorava "O Clube das Chaves", "Uma aventura" e os livros da Alice Vieira... Ah! Que saudades dessas tardes no sofá, a sentir-me parte das histórias, a questionar-me "Como é que aquela senhora me conhecia tão bem?!" Estava, então, no auge da adolescência e vivi essa fase tão peculiar com todos os seus exageros e dramas: com as mudanças de humor, com a tendência para a solidão, com a primeira palpitação dos sonhos, até com a mistura de ficção e realidade, de paixão e admiração... Mas essa é outra história!
Voltando à Alice Vieira: ainda hoje leio os seus livros e ainda hoje mantenho com ela, a própria, uma "amizade virtual" feita de cartas trocadas, de vidas relatadas e de um sentimento muito estranho, mas comum, de nos mantermos assim, perto do papel e afastadas do olhar.
Já repeti muitas vezes que gostava que os meus filhos lessem os livros da Alice e encontrassem neles o mesmo que eu: uma identificação de sentimentos, um escape para as dúvidas da idade, um refúgio para uma infelicidade que mais não é do que a dor do corpo ao crescer. Guardo impecavelmente todos os examplares, onde me refugiei durante algumas horas vivendo a minha adolescência e, apesar de ter consciência que alguns livros têm um carácter marcadamente feminino, guardo, também, este desejo de um dia os ver desfolhados pelas mãos do Tigy e, no fim, espreitando sem me denunciar, ver no seu olhar que ali encontrou um reflexo fiel dos seus mais profundos sentimentos. E, depois, que ele saiba guardar, e resguardar, cada livro tão carinhosamente como eu o tenho feito ao longo dos anos.

Do lado direito do ecrã nasce, agora, um novo espaço.
"Palavras dos outros" é o fruto dessa minha admiração pelos livros e desse meu hábito de registar, num caderno, as melhores citações. Contudo elas não provêm somente dos livros que leio, encontro-as, também, nas revistas e nos jornais, na televisão e na rádio, até nas conversas que ouço, nas conversas que tenho.

23 outubro 2005

Bebé crescido


Sem eu sequer ter dado por isso,
passaram dois meses e o meu bebé tem mudado.

Num cantinho do armário já está roupa que não serve... o choque quando as molas não queriam apertar, a desconfiança de que o programa da máquina de lavar não tinha sido o correcto, a conclusão de que a roupa tinha o mesmo tamanho - o Tigy é que não!
Uma muda de fralda mal sucedida, em que as necessidades do meu bebé se tinham espalhado pela roupa, porque a fralda já não aperta como dantes... até parece que já não serve.
Um passeio à rua com um novo olhar sobre a cadeira do meu pequenino rapaz... vejam lá que já não se perde dentro do ovo, já se senta e encosta a cabecinha nos sítios correctos, parece que vai mesmo confortável. E como custa pegar-lhe.
Momentos ao colo em que o seu corpo já não se perde nos meus braços, enche-os por completo, faz-me reforçar os músculos e dobrar o cuidado.
E como os seus olhos me olham, como percorrem toda a casa, parando nas lâmpadas do tecto, nos quadros da parede, nos bonecos, nos meus olhos também!

Desdobrei as roupas de 3 meses, comprei fraldas tamanho 3, ajustei os cintos da cadeira, habituei os braços a um novo peso e fixei os meus olhos nos dele: "Tigy estás mesmo a crescer. E nem sabes como já tenho saudades do antes...".

11 outubro 2005

Sonhos de pais


Sempre achei curiosos aqueles comentários acerca dos desejos dos pais para os seus filhos e sempre concordei que os adultos desejam para as suas crianças a concretização dos seus próprios sonhos... os impossíveis. Eu e o meu Beg desejamos para o Tigy um futuro profissional bem longe das ciências sociais, ainda mais do jornalismo... No futebol, no golf, no ténis ou na fórmula 1 é que estão as melhores carreiras, plenas de facilidades, de sucesso e de dinheiro. Ou então na medicina. Repito vezes sem conta ao Tigy: "Meu filho: médico é que é bom!" Por vezes, ainda se aflora a via política... Mas conclui-se sempre que a política não é um meio muito "seguro" e, principalmente, consensual cá por estes lados. E são este tipo de percursos que se vão desenhando aqui, perante um sono tranquilo de um pequeno menino apenas com alguns dias de vida.
Por outro lado, os grandes sonhos que se falam repetidamente aqui em casa estão ligados às artes. O Beg quer ver o Tigy sentado ao piano ou agarrado ao violino; eu recordo os tempos em que me via bailarina e concluo: "Tem de vir a menina para a pôr no ballet".
No fim de tudo, e até à próxima conversa sobre "Que desejamos para o nosso bebé quando for grande!", fica uma vontade inquietante que ele seja, acima de tudo, feliz. E se para isso se meter por entre letras, livros e teorias, seguindo o exemplo dos papás... que seja! Mas depois não diga que não avisámos!

03 outubro 2005

Uns dias por lá



Nós os dois por lá estivemos juntos mas sempre acompanhados. Presentes na vida de quem gostamos, atentos às suas rotinas, partes integrantes do seu tempo.
Nós os dois por lá vimos lugares da mamã que agora também são do filho, visitámos muitos colinhos, recebemos muitos presentes... E o Tigy na terra da mamã foi feliz!

21 setembro 2005

Diz-me que creche conheces...


Em Janeiro vou ter de separar-me do meu Tigy para voltar ao trabalho. Não vai ser fácil e, talvez por isso, não consegui ainda decidir onde o deixar. Longe da situação ideal, preciso de escolher uma creche à minha medida. Assim, venho pedir a vossa ajuda: recomendem-me creches em Lisboa ou perto, falem-me das vossas experiências, dêem-me sugestões e opiniões!

16 setembro 2005

Parabéns meu bebé!



" ... eu não sei o que me aconteceu
foi feitiço o que me deu
para gostar tanto assim de alguém

... como tu...

... como tu... "

Parabéns meu Tigy!
Um mês de vida é muito tempo para tamanho sentimento,
mas muito pouco para tudo o que ainda vamos sentir juntos,
atentos ao mundo, aos outros, refugiados nesta felicidade

que me faz

tua mãe


que te faz

meu filho...

10 setembro 2005

Os meus dias


O Tigy acorda e o meu dia vai começar. São normalmente 6 ou 7 da manhã e, a partir daí, não há mais volta que se dê na almofada para prosseguir com os sonhos interrompidos. O quarto dessarrumado - fraldas trocadas de noite à media luz, toalhetes espalhados pelo chão, uma chupeta ali, uma meia acolá - o banho por tomar, o bebé a chorar. Misturando a confusão com o sono, vamos por partes: a mamada, o bebé no berço, a corrida para a banheira. Trajada com a roupa habitual de trazer por casa, aquela onde pinga o leite, onde baba o filho, habita-se a sala para passar o dia. A dois. A tv ligada, uma sandes com queijo e um ucal, e volta a mamada que o bebé ainda chora.
Intercala-se a "Praça da Alegria" com o "Sic10horas", espreita-se o Goucha na TVI e vai-se listando tudo o que se deseja fazer nesse dia: a roupa para passar, a cozinha a precisar de limpeza, o pó no quarto, a roupa suja.
Hora de almoço. As televisões dão notícias. O Tigy ainda acordado e eu sentada no mesmo canto do sofá entre uns beijinhos no bebé, umas conversas para o animar, uma olhadela ao que dá no ecrã. Esquece-se a refeição e vê-se começar no canal1 a "Escrava Isaura", na Sic o "Rex", na TVI o "Max". E surpresa: o Tigy adormeceu. Aí, entre a atrapalhação de não saber bem por onde começar, vou ficando pelo sofá a ponderar. Com o computador ligado vejo o episódio da novela do 1 e lá dou umas voltas pela casa, sem terminar tarefa nenhuma .
Pensando melhor: bebé não tarda a acordar e há tanta coisa na Internet que preciso mesmo de ver. Às 4 fico com a Iva Domingues no "Quem quer ganha" e depois não se larga mais a TVI: há uma série dobrada que eu nem gostava mas da qual já sei toda a história, personagens e afins, depois "Morangos com açúcar" em dose dupla.
No meio de tudo isto, acorda o bebé que quer mamar, chega o Beg do trabalho e traz-se o pacote de bolachas para intercalar com copos de sumo.
Antes do jantar, e perdendo uma das partes dos "Morangos" (não importa... repete amanhã), dá-se o banho ao bebé.
O marido faz o jantar, a Beguinha arruma a cozinha. E, quando o tacho pousa na mesa, o Tigy desperta para também ele jantar. Entre uma garfada e um colinho, a louça lavada e uns beijinhos, rendo-me ao "Ninguém como tu". No fim, com bebé a dormir ou acordado, deito-me na cama para uns minutos de leitura. Daqui a nada adormeço, daqui a nada é madrugada. Daqui a nada ele acorda, daqui a nada é manhã de novo e a televisão está quase ligada.

04 setembro 2005

Enquanto dorme


Há umas pequenas arestas do tempo
em que o meu bebé dorme e em que eu
por querer fazer tanta coisa, sempre adiada
para quando ele adormecer,
acabo por me sentar ao seu lado...
vendo-o dormir!

28 agosto 2005

O menino da Mafalda


Esta é a parte da Mafalda Veiga que trago para os meus momentos com o Tigy: vou sussurrando estas palavras, sem tentar cantá-las, porque a voz não tem a doçura e o timbre da autora. Esta é uma verdadeira canção de embalar, repleta de alusões bonitas a um mundo de sonhos tranquilos, que se abre aos olhos do meu bebé quando ele os fecha para dormir.
A seu lado... imagino-o por entre núvens, passando os seus dedinhos pelas teclas de um piano, voando por entre estrelas e regressando à terra mais calmo, mais feliz!

O MENINO DO PIANO
(um sonho do Tomás)

vi um menino com um piano
no céu da minha cabeça
veio de tão longe só para me pedir
que nunca o esqueça
vinha a tocar o seu piano
como só nos sonhos pode ser
por entre as nuvens e as estrelas
apareceu quando me viu adormecer


ficou sentado perto de mim
onde mora a fantasia
quis-lhe tocar mas não se pode ter
a noite a iluminar o dia
soprou devagarinho uma estrela
que se acendeu na sua mão
disse-me: podes sempre vê-la
se souberes soprá-la no teu coração


vi um menino com um piano
a despedir-se de mim
com uma nuvem fez o mar e partiu
(nos sonhos pode ser assim)
disse-me: está a nascer o dia
vou pra onde a noite se esconder
volto com a primeira estrela
para tu nunca teres medo ao escurecer

24 agosto 2005

Mamã há 8 dias


A melhor coisa de se ser mãe não está somente naquele esboço que parece um sorriso no rosto do meu bebé. Também não está exclusivamente no ar tão tranquilo e ternurento que observo nele enquanto dorme. Acho que nem sequer se restringe ao momento completamente singular de amamentar. As melhores coisas de se ser mãe são as fraldas sujas, os arrotos, as birras, os berros durante o banho, a calmia no momento de vestir, as pernas cruzadas enquanto dorme, os pés esticados quando acorda, as mãos a tocarem o meu peito, os olhos a procurarem a minha voz... E no meio de tudo isto a melhor coisa de se ser mãe é mesmo ter este filho!

22 agosto 2005

De Beguinha grávida a Beguinha mamã



Numa semana perdi a minha barriga.
Numa semana ganhei um bebé.

Numa semana perdi as noites estranhas em que movimentos agitados saiam de dentro da minha pele.
Numa semana ganhei um choro tímido que interrompe os meus sonos exigindo atenção.

Numa semana perdi medos. Ganhei outros maiores.
Numa semana perdi ansiedade. Ganhei vontade de ser ideal, quase perfeita. Por ele.

20 agosto 2005

E aqui está ele!



Chegar a casa. Sentir que aconteceu tanta coisa em tão poucos dias.
Trazer algum desconforto no corpo mas uma felicidade imensa na alma.
E ter aqui, na minha frente e nos meus braços, o refúgio de toda esta benção.

15 agosto 2005

Estarei preparada?



As malas estão feitas.
A hora combinada.
O carro a postos.
O percurso escolhido.
A companhia indispensável.

E eu?
Será que estou preparada?

Até amanhã.

10 agosto 2005

Novidades e pensamentos por capítulos

HOJE

Eu e o Tigy visitámos hoje, pela última vez antes do grande dia, a nossa doutora, que ao longo destes meses nos viu crescer e nos acompanhou da melhor maneira. É pena... mas ela também tem direito a ir de férias!
Resultado da consulta: o menino Tigy ainda está muito escondidinho nesta carapaça que é a minha barriga. Terça feira, às 8 da manhã, lá estaremos na CUF DESCOBERTAS para saber novidades. Vamos de malas e tudo. Mas a mamã confessa que tem um pressentimento que, nesse dia, voltaremos os dois para casa tal e qual como fomos. Mas, com certeza, com data de regresso.

ESTAR GRÁVIDA

Nesta coisa da gravidez, dos partos e dos bebés o que há mais é ideias feitas... As minhas eram muitas e variadas: não devia custar nada estar grávida, o parto deve ser uma coisa horrorosa, ter um filho deve ser uma das coisas mais especiais da vida... Passados 9 meses... o que penso? Que ideias mudaram, o que alterei em mim mesma, o que senti, o que sinto agora, nesta recta final?
1º Estar grávida foi o que de mais bonito e intenso me aconteceu na minha ainda curta vida. E desconfio que só uma nova gravidez fará repetir esta miscelânea de sensações que, ao longo destes meses, me fizeram companhia.
2º Afinal, estar grávida traz alguns desconfortos: as pernas cansadas, as dores de coluna, o funcionamento irregular ou diferente de alguns órgãos... E se antes pensava que essa coisa de filas especiais para grávidas e lugares privados de estacionamento eram um bocadinho "frescura a mais", agora admito que custa mesmo estar em pé, andar quilómetros para chegar a qualquer lado, etc.
3º Continuo a achar que o parto traz dores intensas e desconfortáveis. Mas ao sentir o dia quase quase a chegar vejo-me inesperadamente mais tranquila, sabendo que a dor nada será perante a maravilha que é ter um filho.

NASCIMENTO

Já perspectivei muita coisa em relação ao nascimento. Sonho imenso com isso... acordo ansiosa e desejosa. a minha grande curiosidade reside no bebé, claro está. Nesta fase penso que todos os pais devem sentir o mesmo: uma enorme curiosidade - já uma necessidade - de ver o bebé, de o sentir. Olhando para a casa toda preparada para receber o Tigy - a caminha, o carro, o quarto, as roupas, a banheira - dá uma vontade incontrolável de ver o bebé habitar tudo isso.

O PAPÁ

Nunca esperei outra coisa... mas é sempre reconfortante escrevê-lo: o Beguinho tem sido um pai a 100% e, acima de tudo, um marido incansável, atento, responsável. Um grande companheiro, um melhor namorado, um verdadeiro pai. Se não tivesse quem tenho a meu lado tenho a certeza absoluta que a minha pele nunca via creme, os comprimidos eram esquecidos, as refeições ignoradas, o descanso nenhum e, principalmente, não era a eterna menina mimada e protegida que gosto tanto de ser.
Tigy Tigy tens um papá à maneira à tua espera.

APOIOS E BASES

Ao longo destes meses tenho tido a meu lado pessoas fundamentais e o que têm feito e o que têm dado de si próprias para me acompanhar não tem preço, nem qualificação possível. Os meus papás e a minha mana têm passado estes meses tão grávidos como eu... Espero que o Tigy os saiba recompensar da melhor maneira, porque com certeza eu nunca serei capaz!
A todos aqueles que diariamente me visitam, ligam, mandam mensagens, e-mails, ou simplesmente se questionam sobre o estado da minha gravidez e, assim, têm vivido com alegria e amizade estes meses, agradeço e espero estar sempre presente nas vossas vidas da mesma forma que têm acompanhado a minha.

UM DESEJO

Que o Tigy chegue cheio de saúde, no dia que ele escolher, e que à primeira vista até simpatize comigo!

08 agosto 2005

O tempo, a espera, a paciência


Três visões do tempo, da espera, da paciência.
Visões de outros que aqui faço minhas.

«Para quem sabe esperar, tudo vem a tempo.»
Clément Marot

«Esperar uma alegria também é uma alegria.»
Gotthold Lessing

«O tempo que passa não passa depressa. O que passa depressa é o tempo que passou.»
Vergílio Ferreira

06 agosto 2005

Aos meus amigos



«Cada novo amigo que ganhamos no decorrer da vida aperfeiçoa-nos e enriquece-nos, não tanto pelo que nos dá, mas pelo que nos revela de nós mesmos.» Miguel de Unamuno


Trouxe-os das escolas, dos trabalhos, dos encontros com outros, dos acasos ou de parte alguma... Fiquei com eles, guardando das suas vidas impulsos para a minha. Fui-lhes dando coisas minhas, pedaços de histórias, deixei-os mesmo fazer parte delas, serem protagonistas ou figurantes, interagirem ou apenas observarem. Perdi-lhes o rasto, de quando em vez, voltei a seguir pegadas e a recuperar tempos que não se salvam nunca, tentei acertar o meu passo com o deles, acompanhá-los nas novas corridas, pressentir que traços, que detalhes tinham mudado. E, nestes tempos, nestas buscas, hesitava sempre. Duvidava. Recuava. E teimava em afirmar, para mim, para a escrita, que se calhar não tinha amigos.
Agora, neste tempo presente de sensibilidade e algum bom senso, digo AOS MEUS AMIGOS que encontro em cada um, que fico deles em cada encontro, coisas que não ganharia se eles não fossem mesmo os meus amigos, se eles não fizessem parte de tudo o que me tem acontecido, se eles não me quisessem também na vida deles. Assim, aos de sempre, aos de agora, digo "obrigada" pela presença, pelo testemunho, por me fazerem sentir acompanhada, perseguida, entendida, acarinhada. Mesmo hesitando, duvidando, recuando... teimando que o "obrigada" não soa a nada, não tem sabor, nem a força devida, fica o desabafo. Porque todos me têm mostrado um "refúgio de felicidade", cada um à sua maneira.

05 agosto 2005

Galinha põe o ovo




Sou uma galinha a chocar o seu ovo,
desejosa de ver o seu pintainho.

Serei uma mãe-galinha sempre pronta
a proteger a cria no seu ninho.

02 agosto 2005

Anda cá



Anda cá Tigy.
Conta à mãe em que dia queres conhecer-me!
Olho-te assim, escondido pela pele já tão frágil, e sinto um medo imenso de não te compreender.
Estou à tua espera, dia após dia, cada vez com maior ansiedade, sem saber ao certo se te devo pedir para chegares depressa... Vou ter saudades de te ter assim, dentro de mim, refugiado no meu corpo, parte inteira da minha vida. Vou ter saudades...
Por agora, nesta companhia que me fazes dentro do nosso silêncio, penso e repenso em tudo o que falta para te ver. E, entre tantas banalidades e afazeres, acho sempre que te dei muito pouco nestes meses e que nunca saberei dar-te o suficiente... pelo menos metade do que me tens dado a mim!

31 julho 2005

O que tem o meu bebé?



O meu bebé tem nome

carro

roupa

biberão

O meu bebé tem brinquedos

chupeta

fraldas

colchão

O meu bebé tem cama

quarto

banheira

alimentação

O meu bebé tem amigos

mamã papá

família

afeição

O meu bebé tem força

vontade

peso

dimensão


Mas

O meu bebé não tem rosto

Rosto o meu bebé não tem não

28 julho 2005

Momentos



Para o meu Beg

Há momentos em que
(claramente)
sei que te digo muito pouco
daquilo que sinto
por ti
por nós

Há momentos em que
(sofregamente)
preciso de me declarar
dizer aquilo que guardei
aquilo que menti
aquilo que calei
aquilo que sempre pensei dito e repetido

Há momentos em que
(desesperadamente)
não encontro palavras
não conjugo as melhores frases
e deixo por dizer
tudo o que sei
tudo o que sinto
tudo o que guardo
por ti
por mim

26 julho 2005

Segredo


Saber esperar. Saborear os últimos momentos de um tempo sem exemplo. Saber imaginar. Conservar todos os detalhes e dizer alto: "Falta muito pouco!"
Pouco para se revelar este "SEGREDO"...

«Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:

Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar... »
Miguel Torga, Diário VIII

25 julho 2005

À espera do Tigy


A minha felicidade vive dentro da minha barriga


Certas coisas da vida só se entendem quando se vivem... Tudo o que ouvimos dos outros, relatado com todos os pormenores, repetido vezes sem conta, ganha um significado completamente diferente quando experienciado. Esta felicidade - que agora habita o meu corpo e transforma cada dia numa descoberta - é o melhor exemplo de como as histórias dos outros são mesmo dos outros e de como a nossa história é exclusivamente a nossa história!